PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #8: Viabilidade, encontros e trocas]

Faltam 25 dias para o término da campanha de financiamento coletivo do álbum PARAFUSO ZERO – Expansão, projeto de autoria do quadrinista Jão no qual estou trabalhando como editor. Da meta de R$ 28.500 estabelecida para a impressão do livro, foram reunidos R$ 7.779 até o momento, pouco mais de 27% do objetivo final. A produção do livro e a divulgação da campanha continuam a mil, mas o quadrinho só será impresso caso o montante pedido seja alcançado, então chegou a hora de você apoiar.

Ao longo das últimas semanas, na série PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores, Jão tem falado sobre o desenvolvimento de seu próximo projeto, suas inspirações, as técnicas utilizadas por ele e seus planos para o quadrinho. No post de hoje, ele comenta a decisão de optar por uma campanha de financiamento coletivo, fala da origem da editora Pulo (empresa do autor com a jornalista Helen Murta), trata da equipe com a qual está trabalhando e enfatiza as parcerias e encontros que pretende desenvolver com seu trabalho. Ó:

PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #8: Viabilidade, encontros e trocas]

Viabilidade e equipe

“Eu optei pelo financiamento coletivo para tornar a publicação viável. Algumas peculiaridades da PARAFUSO ZERO – Expansão a fazem difícil de ser publicada por uma outra editora. Como eu não tenho os recursos pra bancar a impressão, caso o projeto não seja financiado, ele não será realizado. Eu não vejo outra forma de fazê-lo.

A decisão de buscar o financiamento coletivo também diz respeito à minha equipe. Se eu fosse publicar o livro por uma outra editora, eu teria um outro editor e eu queria que o livro fosse editado pelo Ramon Vitral. E há toda uma equipe que eu preciso para poder administrar essa produção comigo.

A Helen, minha sócia na editora Pulo, dirige a campanha e a comunicação do projeto. Ela está fazendo esse trabalho durante a campanha, mas continuará nessa função quando o livro sair. Já existe toda uma estratégia de comunicação desenvolvida por ela. Também tem o Matheus Ferreira, autor do design do logotipo. Ele é uma pessoa muito próxima e já explicou nessa mesma série de bastidores o ponto de vista dele em relação ao projeto.

Há todas essas pessoas ao meu redor. Seria muito difícil que uma editora me desse essas condições e bancasse toda essa equipe. Não se trata apenas de pegar uma história em quadrinhos minha, levar em uma editora e um possível editor gostar e imprimir. Não é só isso. Esse livro não existirá de outra forma além da forma em que eu estou trabalhando agora. Aliás, em que todos nós estamos trabalhando agora. Essa é a principal motivação pelo financiamento coletivo e também a grande diferença de optar por publicar por uma editora tradicional.

Sem contar alguns aspectos relacionados a liberdade criativa. A ideia é que essa ‘expansão’ mencionada no livro continue a acontecer mesmo depois do lançamento. Seja em forma de zine ou em outros formatos de publicação. Por uma editora eu não sei se teria tanta liberdade para desenvolver esse projeto da forma como eu gostaria”. 

Pulo e parcerias

“A Pulo foi criada em 2014, pela Helen Murta, minha sócia. A Pulo surge como uma empresa de comunicação e assessoria de imprensa. Depois o projeto começou a dar uma guinada pra área de produção cultural. Por ela criamos o festival Traço – Música e Desenhos Ao Vivo e a feira Faísca, sempre mantendo esse foco na comunicação e nas artes gráficas. Em 2016, quando eu lancei a PARAFUSO 0, a Pulo se torna também uma editora. Eu queria montar uma editora independente que pudesse me dar pequenas liberdades, para publicar as coisas em que eu piro, da forma como eu piro, sem ficar muito preso a regras de mercado.

Na editora somos eu e a Helen e estamos com o plano de ampliar o catálogo. O foco atual é no álbum novo, PARAFUSO ZERO – Expansão, mas a Helen também tem planos de escrever e publicar algumas coisas. Também queremos fazer convites para publicar outros autores. Recentemente, na Bienal de Quadrinhos de Curitiba, fizemos uma parceria com a Entrecampo, uma outra editora aqui de Belo Horizonte que também é um escritório de design e uma oficina gráfica. Eles imprimiram o meu zine mais recente, Hora H. Ele foi uma nova parceria da Pulo com a Entrecampo.

Então a ideia é essa: sempre juntar forças com parceiros para poder ir publicando e viabilizando os trabalhos, algo muito parecido com o financiamento coletivo. A ideia é sempre ir fazendo com outras pessoas, pessoas que acreditam nos projetos”.

Proximidade e encontros

“Eu acredito muito na relação entre autores e leitores. Acho que é isso que o financiamento coletivo acrescenta e é o que eu tento fazer no meu trabalho. Grandes lojas, estabelecimentos de rede distanciam essa mesma relação, é uma intermediação institucionalizada. Por exemplo, eu vendendo o meu quadrinho para um leitor: vou pegar o exemplar, vou assinar, vou levar ao correio e vou enviar pra ele. Depois eu tenho um retorno direto e muito próximo. No caso dessas lojas, não existe isso.

Por meio dessas grandes redes, de modo geral, o autor nem fica sabendo quem tá comprando o livro e porque tá comprando o livro. Acho que isso distancia as pessoas. O financiamento coletivo é o contrário disso. As pessoas vão comprar como se fosse uma pré-venda, eu vou pegar livro por livro e assinarei cada um. Se alguém quiser dar de presente, é só me avisar e eu vou mandar com a assinatura pra pessoa que ela quiser. Os bookplates, por exemplo, serão numerados e assinados por mim. É uma outra relação, não apenas uma compra, mas uma troca que essas grandes instituições não conseguem promover.

Eu tenho uma outra questão que é a minha relação com os lojistas. Eu gosto, por exemplo, de estar em um evento, promover um lançamento, e estar ali pra conversar com o público, com as pessoas que gostam do meu trabalho. Eu nunca cobro pra assinar um trabalho ou pra fazer um desenho em um livro meu. Eu sou desenhista, é a principal coisa que eu faço e eu acredito que é o mínimo que eu posso fazer para os meus leitores, para as pessoas que se interessam pelo meu trabalho, fazer um desenho ali na hora pra elas. Eu tô aqui pra isso. Eu gosto do retorno que vem disso. A minha forma de pensar o mercado, dentro do que temos vivido e visto hoje em dia, é tentar promover a relação e o encontro entre as pessoas”.

Pontos de encontro

“Lojas independentes e especializadas, livrarias de ruas, estabelecimentos fora das grandes redes não são simplesmente um lugar de compra e venda. As lojas muitas vezes estão promovendo diversas ações benéficas pro mercado como um todo. São pontos de encontro, de conversas e interação. Você chega num lugar, encontra com outros autores e troca ideia. Mesmo encontros casuais podem resultar em outros projetos. Uma conversa e uma oficina abrem portas dentro da cabeça dos artistas ou dos leitores, em relação ao mercado ou do próprio ato de fazer um quadrinho. As lojas promovem principalmente isso, o encontro, o ambiente e o local de discussão.

Eu acredito que a PARAFUSO ZERO – Expansão, quando impressa, não será encontrada em grandes redes de livraria. Uma coisa que estabeleci pra esse álbum e pensando também como uma editora independente é que eu gostaria de criar uma relação com lojas em que as pessoas pegam os livros comigo, compram com um desconto legal e são revendedoras. Dentro das burocracias que existem nas grandes redes, não existe isso. Elas pegam esses trabalhos consignados e apenas revendem. Eu gosto muito da ideia do lojista ser um parceiro meu. Não gosto de distanciamento, gosto de do lojista poder me dizer como estão as vendas e quais pessoas compraram.

Dessa forma, eu posso, por exemplo, pensar uma ação junto com o lojista que acredita ser possível melhorar as vendas dele. Eu quero estar por dentro pra pensar essas estratégias, algo que as grandes redes não permitem. Eu quero que os lojistas que recebem os títulos do catálogo da Pulo sejam realmente parceiros e ajudem a coisa a acontecer em troca do que nós pudermos oferecer para a promoção da venda e de um maior alcance de público”.

CONTINUA…

ANTERIORMENTE:
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #7: Chris Ware, Elza Soares, Emicida e uma teia paranóica de referências];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #6: Akira, Wally e paralelismos distópicos];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #5: Proporções extremas e a insignificância humana no Universo];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #4: A origem do ‘Formato Jão’];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #3: Um sonho com Moebius];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #2: Baixo Centro, Flores e texto];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #1: origens, restrições e OuBaPo].


Publicado

em

por

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *