Vida de Prástico: a coletânea dos quadrinhos de Ricardo Coimbra

Já estou com uma lista encaminhada das coisas mais legais lançadas em 2014, mas valeu a pena segurar o post. Será lançado amanhã a primeira coletânea dos quadrinhos de Ricardo Coimbra, Vida de Prástico. Ainda não vi o livro, compro o meu amanhã às 19h, junto com todo mundo que aparecer na Monkix pro lançamento – também está em pré-venda aqui. Ainda assim, aposto alto que vai constar entre minhas obras preferidas de 2014. Vida de Prástico reúne tiras produzidas por Coimbra entre 2009 e 2014, algumas delas presentes na Xula e outras disponíveis no Vida e Obra de Mim Mesmo. Não conheço nenhum quadrinista com a capacidade de constatar e expor a realidade como o Ricardo, seus quadrinhos apresentam uma precisão quase factual do mundo em que vivemos. No início do ano passado ele me falou de seu fetichismo em relação ao impresso, então é ainda mais legal ver seu trabalho ir pro papel. O prefácio da coletânea, feito pelo Bruno Maron, tá disponível aqui, junto com um preview da obra. Bati um papo rápido como o Coimbra sobre o lançamento. Saca só:

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Como é a sensação de ter uma publicação solo impressa?

Fico feliz. Apesar de ter publicado a maioria das minhas tiras na internet, eu faço parte de uma geração de transição, que ainda tem uma ligação muito forte com o suporte impresso (trocando em miúdos: sou velho). Então ver tudo reunido numa publicação de papel tem um peso grande pra mim. Mas é estranho ao mesmo tempo porque fora do meu blog sempre publiquei em grupo e agora, numa publicação sem mais ninguém além de mim, fica aquela sensação de Chitãozinho em carreira solo.

Por que Vida de Plástico?

Na verdade, o nome não é Vida de Plástico, é Vida de PRástico, com erre mesmo. É o nome de uma das histórias que está na coletânea. Ela saiu originalmente na revista XULA e acho que traduz não apenas a minha condição como ser humano, mas também o meu trabalho como quadrinista: uma relação de consumo malsucedida, onde você tem sempre menos do que espera, como a situação em que você compra o sanduíche da foto, mas recebe aquele melancólico pedaço de isopor do Mc Donald’s. O nome é, também, uma referência ao “Vida de Plástico”, um seriado de animação que passava, na MTV lá pelos idos de 2001 ou 2002 e que usava o Ken e a Barbie numas animações stop motion meio escrotas. Acho que era do Felipe Xavier do Sobrinhos do Ataíde, se não me engano.

Como foi feita a seleção das tiras do livro?

Foi bem complicada porque tem muita coisa (sobretudo as coisas mais antigas) que são bem embaraçosas pra mim, seja pela baixa qualidade, seja pelo fato de serem assuntos que eu trataria de forma diferente hoje. Se a coletânea fosse obedecer ao meu critério estrito, seria um livro de três páginas, quatro no máximo. Mas a coletânea não é feita pra mim, né? Então, nessa fase foi bem importante o trabalho do Zé e da Ana (da Editora Gato Preto), que ajudaram a separar o material a partir de um olhar externo e tentando criar um material que fosse um retrato, um apanhado geral dos últimos cinco anos de produção. No fim, optamos por dividir em capítulos que representavam alguns temas recorrentes (para não dizer repetitivos) no meu trabalho. São 10 capítulos: Vida de Prástico, Não Existe Humor em SP, A Grande Igreja, Planeta de Pelúcia, Fabulosa Galeria, Constrangeduto, Sociedade da Cagação de Regra, Amor Estranho Amor, A Grande Picaretagem e O Dono do Bar.

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O livro tem tiras publicadas entre 2009 e 2014. Quando você vê hoje, seus trabalhos de 2009, o que você acha que mais mudou no seu conteúdo e no seu estilo?

É como eu disse antes: muita coisa antiga, vendo agora, dá bastante vergonha. Tanto em estilo como em conteúdo. Acho que de 2009 pra cá meu desenho piorou muito, mas foi ficando mais adequado aos temas, então acho que de uma forma geral a coisa toda ficou um pouco mais coesa (pelo menos me parece).

A ideia do livro partiu de você? Você tinha alguma inspiração para o formato? Alguma outra publicação serviu de inspiração em termos do projeto gráfico e do conteúdo?

Eu já vinha pensando em juntar todo o meu material e publicar num livro há algum tempo, mas, sinceramente, achava que não tinha lenha suficiente pra queimar. Ao longo de 2013 e 2014 produzi um pouco mais intensamente e aí a ideia foi amadurecendo. Quando o Bernardo França me colocou em contato com a Gato Preto, rolou a proposta e aí juntamos a fome com a vontade de comer. O formato e projeto gráfico do livro partiram totalmente do Zé e da Ana. Não saberia dizer se eles se inspiraram em algum outro projeto, mas acho que a preocupação principal era ter um formato que servisse como suporte pro meu trabalho, que tem muita coisa diferente, tiras de 3 quadros, tiras de 5 quadros, cartuns e hq’s mais longas.

Imagino que seja difícil escolher, mas você tem algum quadrinho preferido no livro? Ou algum que tenha algum significado especial pra você?

Vida de Prástico, obviamente, tem um significado especial pra mim. Não é à toa que ela dá nome à coletânea. Mas tem outra, que chama Os Limites do Amor que eu curto pessoalmente porque foi muito divertida de desenhar e de pensar nas piadas.


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