Papo com Box Brown

Tive uma longa conversa com o quadrinista Box Brown (o cara do auto-retrato aqui em cima) pra escrever sobre Andre The Giant: Life and Legend pra revista Select. A obra consta na lista de 20 melhores quadrinhos de 2014 da Amazon e também considero uma das minhas grandes leituras de 2014. Brown conta a história de André René Roussimoff, uma das maiores lendas do mundo do wrestling nos Estados Unidos. Falo mais sobre o gibi na matéria que escrevi pra revista e está disponível para leitura aqui. No papo que tive com o autor, conversamos sobre a produção da hq, a popularização do gênero biográfico nos quadrinhos e formas de financiamento coletivo para produção de gibis. Com vocês, Box Brown:

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Na introdução do livro você conta como começou seu interesse por wrestling, mas quando você notou que o Andre poderia ser o protagonista de uma história em quadrinho?

No começo eu fazia apenas algumas histórias pequenas protagonizadas pelo Andre, mas quanto mais eu lia sobre ele, mais histórias eu descobria que queria transformar em quadrinhos. Uma hora eu acabei percebendo que isso poderia resultar em um livro inteiro.

É difícil saber o que é verdade e mentira no mundo do wrestling e na vida dos lutadores, até onde vai o personagem deles. Foi muito difícil encontrar uma versão do Andre que você acreditasse ser a mais real possível?

Foi difícil porque no mundo do wrestling as pessoas estão constantemente mentindo umas pras outras e engrandecendo suas histórias. Então precisei fazer uso do meu melhor julgamento para saber o que era real e o que era falso. Na verdade essas são as minhas impressões sobre o Andre a partir das minhas pesquisas. Alguém que tenha conhecido ele pessoalmente talvez tenha uma impressão diferente.

Há muitos quadrinistas fazendo jornalismo em quadrinhos. A sua intenção foi fazer um trabalho jornalístico?

Eu gosto de pensar o livro como jornalístico e acadêmico, mas eu também estava moldando uma história. Além disso, o conceito de verdade no mundo do wrestling é algo incompreensível. Mesmo nas auto-biografias dos lutadores, como nas de Hulk Hogan e Bret Hart, é impossível para os leitores saber o que é realmente verdade. O Hulk Holgan é um personagem e ele ainda está trabalhando e investindo no personagem de Hulk Hogan. Então mesmo que ele tenha escrito um manuscrito em primeira pessoa, é extremamente suspeita a veracidade do livro. Sou bastante influencidado por documentários. Os melhores documentários são imparciais, expõem a verdade e deixam a audiência chegar às suas próprias conclusões e foi isso que tentei fazer com livro.

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Não sou um expert em wrestling, mas é uma indústria que parece não ser tão popular quanto já foi. Isso procede? Você vê algum motivo pra isso?

Bem, houve alguns períodos de maior popularidade nos Estados Unidos. No meio dos anos 80, quando Hulk Hogan virou um nome presente na cultura mainstream, e também no final dos anos 90, quando The Rock e Stonecold Steve Austin eram populares. Acho que hoje a WWE está estabelecida. Eles conseguem índices de audiência consistentes e maximizaram seus ganhos com marketing. Não vejo crescimento e a verdade é que ele não ocorre há anos. Quando você é uma empresa gigantesca e monolítica como a WWE, é impossível que outras companhias possam competir. Acho que isso realmente atrapalha o negócio em geral.

Há um imenso debate no Brasil sobre a relação entre um biógrafo e seu biografado. O Andre teve uma vida muito polêmica. Em algum momento você ficou preocupado de estar expondo ainda mais a vida dele?

Sim, com certeza. Mas também senti que não mostrar alguns fatos não seria a coisa certa a fazer. Eu sabia sobre eles, então eles já haviam afetado o meu ponto de vista sobre o Andre. Falando especificamente sobre o Andre, acho que ele nunca foi visto como um ser humano pela maioria das pessoas. Ele sempre foi colocado à margem da sociedade e tinha dificuldade para interagir com outras pessoas da forma como qualquer um conseguiria. Eu acho que incluir suas falhas de personalidade permite que ele seja visto como um ser humanos como todos nós. Todos nós temos falhas.

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Antes de Andre The Giant você publicou muitos quadrinhos independentes. Como foi trabalhar com a First Second? Você já tinha o livro pronto quando eles optaram por lançar ou o trabalho foi conjunto desde o começo?

Eu tinha metade do livro pronto quando levei para a First Second. É incrível trabalhar com eles. Não me faltam adjetivos para elogiar o trabalho deles. A minha editora, Calista Brill, esteve aberta para me guiar sempre que precisei. E várias vezes eu acabava esquecendo que o livro é principalmente para pessoas que não necessariamente sabem sobre o mundo do wrestling profissional, então a Calista sempre me lembrava quando eu precisava explicar um pouco mais sobre esse universo.

O livro entrou na lista de bestsellers do New York Times e recebeu várias críticas positivas. Durante a produção do quadrinho você esperava essa repercussão?

De forma alguma. Eu nunca imaginei que receberia tantas coisas positivas. Fiquei maluco com o retorno. Recebo pelo menos uma mensagem sobre o livro todo dia. Tem sido uma jornada intensa. Minha experiência com quadrinhos antes dessa havia sido muito mais simples.

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Você trabalhou com financiamento coletivo para publicar os Retrofit Comics. O quão importante são essas possibilidades modernas para novos autores?

O Kickstater foi de grande ajuda quando comecei com a Retrofit Comics. No começo era uma ideia maluca. Aprendi muitas lições no mu primeiro ano e agora estamos indo bem. Eu provavelmente não teria começado sem financiamento coletivo. Acho que essa possibilidade dá uma opção ao autor. No passado você tinha de vender a ideia para alguém e se ela não acreditasse em você, seu trabalho não seria publicado. Agora você pode fazer seu trabalho e, se ele for bom, ser pago, ou pelo menos criar alguma coisa! Então, com certeza, são bons tempos para ser um artista independente.

Você já está trabalhando em algum livro novo? Também será publicado pela First Second?

Ainda não comecei a trabalhar no livro novo, mas algumas coisas estão em produção. Vou continuar publicando minhas histórias pequenas da série Number pelo Retrofit Comics.

Você sabe se há alguma previsão de Andre ser lançado no Brasil?

Não sei! Mas é definitivamente possível. Vai sair em espanhol, italiano e francês, então se alguma editora brasileira ou portuguesa tiver interesse eu iria adorar. Sei que tenho alguns leitores no Brasil e uma editora pequena publicou alguns quadrinhos curtos meus no Brasil. Quem sabe?

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