O making of de uma sequência de duas páginas de São Paulo dos Mortos Vol. 03, por Daniel Esteves e Alex Rodrigues

A campanha de financiamento coletivo do terceiro volume da série São Paulo dos Mortos estará aberta no Catarse até o dia 28 de outubro de 2016. Até o momento, o projeto do roteirista Daniel Esteves conseguiu 104% da meta pedida na campanha, tendo arrecadado R$ 11.561,00. Assim como nas duas primeiras edições da coleção e em obras clássicas do gênero, São Paulo dos Mortos propõe uma reflexão sobre a sociedade em que vivemos a partir de um futuro próximo pós-apocalíptico no qual o mundo foi assolado por uma praga zumbi. No caso, como diz o nome da HQ, a história é ambientada em São Paulo.

Pedi para o autor da obra um especial nos mesmos moldes dos já produzidos pra cá por Dalton Cara, Liber Paz, Felipe Nunes e Murilo Martins, mostrando o passo a passo de um trecho do quadrinho. A sequência de duas páginas escolhida por Esteves antecede uma invasão de dois dos protagonistas do álbum ao Templo de Salomão, a sede da Igreja Universal do Reino de Deus – nas palavras do quadrinista, “aquele prédio grandioso e horrível localizado no Brás”.

O texto a seguir é de autoria de Daniel Esteves e apresenta cada uma das etapas de construção dessa sequência em parceria com o desenhista Alex Rodrigues. Cá entre nós, um tremendo serviço em relação a como construir um gibi e um enorme incentivo pra quem ainda não investiu na campanha do São Paulo dos Mortos Vol. 3. Saca que massa:

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MAKING OF – São Paulo dos Mortos
por Daniel Esteves
Ilustrações de Alex Rodrigues

São Paulo dos Mortos surgiu em 2013. Naquele ano viabilizamos no catarse e, junto a diversos artistas, publicamos o primeiro volume. Composto por cinco histórias, a motivação primordial para sua existência foram alguns fatos políticos da época. A principal história da edição, Carona para o Governador, falava sobre a violência da Polícia Militar e a respeito da criminosa reintegração de posse do Governo de São Paulo, contra a comunidade do Pinheirinho em São José dos Campos. A HQ trazia inclusive a participação ‘especial’ do eterno governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Além dessa, tivemos outras quatro histórias no primeiro e uma história no segundo volume, com o personagem ‘Mortoboy’, um motoboy que atua arrumando coisas difíceis para as pessoas durante o apocalipse zumbi.

Algumas ideias pro primeiro volume ficaram de fora. Entre elas uma onde um Pastor de uma igreja evangélica era mordido por um zumbi durante uma sessão de exorcismo. Outra ideia deixada pro futuro foi dum personagem dentista, que trabalharia nesse mundo novo arrancando dentes de zumbis para que as famílias pudessem continuar convivendo com o parente ‘zumbificado’.

Dito isso, falaremos sobre uma das histórias que estará no terceiro volume. Ambientada no Templo de Salomão, a sede da Igreja Universal do Reino de Deus, aquele prédio grandioso e horrível localizado no Brás, resgata a antiga ideia do Pastor, mas de forma diferente. Além disso, o Doutor (aquele dentista citado anteriormente), estará nessa HQ, assim como em outra do álbum. Teremos também o retorno do Mortoboy, fazendo parte dessa mesma história no Templo de Salomão. Apesar de no primeiro volume não trabalharmos muito com a ideia de personagens fixos, isso foi pensado no segundo e será parte grande do conteúdo do terceiro volume. Abaixo alguns esboços para os dois personagens citados, o Doutor e o Mortoboy, ambos feitos pelo ilustrador Alex Rodrigues. O Mortoboy é conteúdo produzido da segunda edição, já o Doutor é desenho novo.

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Normalmente eu escrevo todas as ideias no papel, depois vou criando personagens e ambiente (se isso for necessário, depende da história), e tento criar o máximo possível da história. A seguir penso em quantas páginas isso vai ter, mesmo que não consiga ser exato nesse processo, mas prefiro dividir a ação pelas páginas, para pensar no ritmo e no que eu conseguirei colocar na HQ. O que eu entrego para o desenhista é um ROTEIRO-FINAL dividido em páginas, decupado em quadros, com as descrições e textos de cada cena, porém, tentando ser o mais objetivo possível, e evitando tirar o espaço para a criatividade do desenhista. A seguir exemplo de duas páginas de roteiro:

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Com esse roteiro em mãos o artista (Alex Rodrigues) fez os primeiros thumbnails das páginas. A partir dele discutimos as cenas, e algumas coisas são repensadas, gerando outros esboços. Isso funciona muito bem com desenhistas que tenho um grande contato, como é o caso dele. Por exemplo, na quarta página o roteiro falava em 4 cenas, mas o Alex desmembrou uma delas, deixando a página com 05 quadros. Depois de me enviar o esboço a gente conversou e vi a necessidade de uma cena a mais para fechar a ação.

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Depois disso ele partiu para uma versão mais acabada da página, como o processo dele é todo digital então seria quase o equivalente a um lápis. Para não haver dúvidas batemos mais uma vez com o roteiro antes de ele finalizar.

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A seguir a finalização dele. Essas páginas ainda estão em processo de produção, faltando as onomatopeias e balões, que serão aplicados.

Normalmente esse é o processo de produção de uma página. O roteiro final que entrego aos desenhistas, os esboços que recebo, as conversas em cima disso, com sugestões de ambos os lados e a versão final. Algumas vezes as páginas saem mais facilmente, noutras demora um pouco mais.

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