Manzanna e a produção do sétimo número da Série Postal

Reúno mais uma vez aqui no blog a versão integral do depoimento de um autor da Série Postal sobre a produção de um dos quadrinhos da coleção. Dessa vez, reproduzo as falas da Manzanna contando as inspirações e técnicas utilizadas por ela para a criação de Acordar, sétimo número do projeto. Lembrando: as falas dos quadrinistas sobre suas respectivas obras para a Série Postal você encontra primeiro lá no tumblr  do projeto – que atualmente está sendo atualizado com os comentários da Paula Puiupo sobre a oitava edição. A seguir, aspas de Manzanna:

“Eu acho que desde que comecei a fazer quadrinhos trabalho com formatos pequenos, meu originais são todos miudinhos, um A4, A6 ou A5. Então pensar dentro dessa restrição não foi necessariamente complicado. A ideia de que era um postal, as dimensões específicas dele, o fato de que seria distribuído e o momento que eu tava da minha relação com quadrinho… Isso tudo acabou me influenciado mais. Também tem a ideia de que faz parte de um conjunto com outros artistas, isso me estimulou”

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“Eu tenho feito muito quadrinho que não publico (risos) E eu estava nesse momento quando veio o convite para participar da Série Postal e fiquei matutando, pensando no que fazer pro postal. Foi uma hora em que deu pra dar vazão para algumas coisas que tenho tentado abordar e seguir mais no meu trabalho. Passa por uma coisa guiada pelo texto, mas não atrelada a ele, não literal, óbvio. Quadrinho que é legendado não me interessa tanto”

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“Eu geralmente trabalho com o texto primeiro. Eu costumo escrever a ideia e ela geralmente vem mais pela estrutura do que pela imagem. Aí fui pensar no que fazer e dizer com esse postal e procurei esses textos que eu tinha, alguns mais encaminhados e muito deles eu achava que eram poemas. Cheguei até a publicar alguns deles num blog meio secretinho que tenho… Mas uma hora eu estava relendo e senti que eles não se resolviam muito bem só como texto. Ainda cabia alguma coisa ali e esse foi um deles. Eu tratei de pensar qual o grid, qual organização de página que queria pra caber no postal e qual texto ficaria legal com qual estrutura”

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“Eu tinha esse texto que é uma coisa meio pesquisa no Google e meio sonho. Decidi por ele, namorei essas ideias e fui com ela, pela estrutura e pelo que estava confortável de abordar na hora. Depois de pronto eu gostei de pensar que é uma coisa que o texto e a história passam por uma experiência comum, bem familiar, do jeito como conversamos com o computador e também no sonho”

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“O postal é uma coisa não só analógica como também quase obsoleta, pouca gente usa. Já tem um valor hoje mais de colecionável e de arte gráfica do que de peça de correio. Fiquei pensando nisso, do quadrinho não ser apenas uma legenda, sabe? Falar de internet não quer dizer que preciso estar online. O tema não tem que caber só ali no lugar certinho dele. Esse deslocamento pode até abrir uma leitura legal. Não é nada que eu tenha pensando elaboradamente, como se estivesse sendo provocativa, ‘vou falar de uma linguagem em outra’ (risos) Mas eu gosto do desencontro”

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“Sobre o grid, também segue essa coisa de que estou com uns trabalho mais para eu entender o que eu quero com quadrinhos. Já não me sinto tão apressada em produzir e publicar, como foi para mim no início. ‘Cara, tô fazendo e tá fluindo, então vou fazer mais e mais e mais’. Acho que o momento é de escolher. Essas escolhas passam por estudar o grid. Fiquei pensando o quanto eu não tinha pensado e explorado formatos mais tradicionais, como esse três por três. Sempre usei mais o dois por dois. Teve um momento em que comecei a desenhar muito solto e estava pirando que eu queria fazer um gridzão muito fluido, muito desencontrado e aí falei ‘não, espera, deixa eu treinar um pouquinho o mais primordial, ver como é que funciona’”

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“Eu raramente trabalho com cor nos meus quadrinhos e em trabalhos mais autorais. Sempre coloco cores em frilas, mas neles eu tô atendendo uma ideia em nome da qual eu crio. Agora, quando eu preciso decidir qual cor quero usar tenho um pouco de dificuldade. Ainda não me encontrei em relação a isso. Tenho apelado para um cor de rosa com a qual me sinto mais confortável. A cor no caso desse quadrinho não tá a serviço de apontar um sentimento específico, mas foi uma tentativa de trazer a cor pro meu trabalho sem que eu me sentisse fazendo uma coisa que não é muito minha. No caso desse degradê, esse negócio meio flutuante, eu tava seguindo alguma coisas que já andei fazendo com lápis de cor e pastel seco… Sempre tendo a ir pra esse lado do esfumado, de uma mistura meio nebulosa das cores”

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