Bastidores PARAFUSO #1 – Parte I: Laboratório de Quadrinhos Potenciais

Hoje (5/1) é o último dia para inscrição no Laboratório de Quadrinhos Potenciais organizado e coordenado pelo quadrinista Jão em Belo Horizonte. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas aqui. O projeto consiste em uma série de três encontros – realizados nos dias 10, 11 e 12 de janeiro na Livraria da Rua em BH – voltados para a especialização de quadrinistas e ilustradores em narrativas gráficas experimentais. Da oficina surgirá o conteúdo que será publicado no número 1 da revista PARAFUSO, publicada pela Pulo Comunicação.

Gosto muito do trabalho do Jão. Baixo Centro e o número zero da PARAFUSO estão entre os meus quadrinhos nacionais preferidos publicados nos últimos anos. Por essa admiração, escrevi sobre a edição de estreia da PARAFUSO pra revista Rolling Stone e, posteriormente, convidei o autor pra criar a HQ do número 11 da Série Postal. A ideia do Laboratório de Quadrinhos Potenciais idealizada pelo autor me pareceu uma ótima sacada e o convidei pra contar um pouco dos bastidores do projeto aqui no blog. Assim surge a série Bastidores PARAFUSO #1. Na primeira parte desses posts, o Jão fala um pouco sobre as origens da oficina e suas expectativas em relação aos encontros que começam na próxima semana. Ó:

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Bastidores PARAFUSO #1 – Parte I: Laboratório de Quadrinhos Potenciais

por Jão

O ano de 2017 foi bastante complicado para minha produção artística. Precisei destinar grande parte de minha atenção para a Faísca, feira gráfica mensal de Belo Horizonte da qual sou um dos criadores e organizadores, que passou por muitas mudanças e ampliações nesse período. Usei o restante do meu tempo, então, para pensar sobre os caminhos que queria seguir com meu trabalho autoral na área dos quadrinhos.

Desde o lançamento da revista PARAFUSO #0, em dezembro de 2016, venho pensando na edição seguinte. Quando criei a proposta da publicação, já sabia que ela seria um espaço para minhas pirações e que não teria um formato padrão, não sendo previsível para os leitores o que viria nas edições posteriores. No número zero da revista saiu a história fechada “Vigilantes”, mas isso não significava que todos os outros volumes seriam assim, com narrativas gráficas de vinte e poucas páginas. Desde o início, abri pra mim mesmo a possibilidade de, por exemplo, fazer uma edição que seja uma antologia de trabalhos meus, ou fazer uma novela um pouco maior em determinado exemplar. O que eu sempre quis com a revista é que ela refletisse o momento de minha produção.

Têm passado por muitos dos meus pensamentos em tempos recentes a vontade e a necessidade de criar de forma coletiva. Em minha atuação na Faísca, percebo que, cada vez mais, existem pessoas próximas produzindo e propondo trabalhos que me inspiram muito. Também estou num período de querer entender melhor o que é a linguagem das histórias em quadrinhos e quais são as possibilidades que ela oferece. Sendo assim, comecei a estudar o OuBaPo, que é uma série de exercícios criados por autores franceses com o objetivo de impor limites e restrições criativas para quadrinistas. O que gosto de observar nessas práticas é a abordagem, que aproxima o fazer artístico de uma espécie de jogo, transformando a experiência de contar algo a partir de uma sequência de imagens em uma atividade lúdica. Percebi também que muitas de minhas histórias já possuíam elementos semelhantes, que foram usados de forma inconsciente, como em “Vigilantes”, n’As aventuras de Flores, o bárbaro, ou no postal O quadro, que fiz para o Ramon Vitral publicar pela Série Postal, no ano passado.

A partir disso, decidi propor o Laboratório de Quadrinhos Potenciais, uma oficina voltada para a especialização de quadrinistas e ilustradores em narrativas gráficas experimentais. A ideia é que a atividade seja um espaço para trocas, debates e práticas no campo da arte sequencial. Serão selecionados dez artistas para participar do processo junto comigo e vamos desenvolver trabalhos baseados em restrições criativas, sejam elas individuais ou coletivas. O intuito é explorar as fronteiras da linguagem das histórias em quadrinhos e, com isso, ao final, que cada autor possa sair com novas possibilidades de produção e de percepção sobre seu próprio trabalho.

Durante a elaboração do projeto percebi que seria um desperdício caso o Laboratório de Quadrinhos Potenciais não tivesse uma publicação com os resultados obtidos durante o processo, pois haveria uma reunião inédita de artistas criando juntos. Percebi, então, que a edição número 1 da PARAFUSO poderia se encaixar no que eu queria, decidi que ela seria feita de forma coletiva e organizada por mim. Talvez seja uma artimanha que desenvolvi para quebrar as expectativas de meus leitores, pois nem eu esperava que a revista seria produzida por várias mãos. Para além de construção conjunta, a proposta de criar experimentações por meio de restrições oubapianas e ver os resultados desses ensaios e exercícios de linguagem é o mote para a nova revista.

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