“A melhor HQ de todos os tempos, hoje, para mim” – Ricardo Coimbra: A Pior Banda do Mundo

Mais um parágrafo pra “a melhor hq de todos os tempos, hoje, para mim”. O dono do texto é o Ricardo Coimbra, umas das mentes por trás da genial Xula e responsável pelo Vida e Obra de Mim Mesmo. O quadrinho escolhido por ele acabou de ganhar uma reedição pela Devir. Ó o que o Ricardo tem a dizer sobre A Pior Banda do Mundo:

“Acho que perdi a conta de quantas vezes na minha vida já repeti que A Pior Banda do Mundo é o melhor quadrinho de todos os tempos. Sempre que me pedem uma dica, falo dessa série (e quando não me pedem, falo também). Desde que li pela primeira vez, em 2002, nunca mais encontrei nada que me impressionasse mais. José Carlos Fernandes passou a figurar na minha lista pessoal de melhores do mundo, ao lado de Millôr, Crumb, Mutarelli, Dahmer, Angeli, Marcatti, Laerte. E, com todo respeito a todos esses mestres, dou ao português larga vantagem. Afinal, em A Pior Banda do Mundo ele conseguiu equacionar como ninguém algumas das qualidades mais importantes numa boa obra de quadrinho: um texto refinado e poético (mas sem ser pedante e nem afrescalhado) e um traço classudo (perfeitamente integrado à atmosfera do texto e sem as pirotecnias típicas de ilustrador esforçadinho querendo mostrar serviço). Dividida em seis volumes e com títulos sugestivos como A Grande Enciclopédia do Conhecimento Obsoleto, O Museu Nacional do Acessório e do Irrelevante ou O Depósito de Refugos Postais, a série traz, em cada um deles, várias histórias curtas de duas páginas, que funcionam de forma autônoma mas que também se comunicam entre si. É protagonizada por uma banda de jazz que ensaia há 30 anos no porão de uma alfaiataria e, mesmo depois de todo esse tempo, permanece absolutamente inepta. Mas a banda é apenas o mote central para um desfile de personagens e situações em que brilha um humor tragicômico e melancólico, tipicamente português (há um homem que descobre que só existe no sonho das pessoas, um adivinho que atende como se fosse um funcionário público numa repartição, um funcionário encarregado de ouvir discos de vinil ao contrário em busca de mensagens satânicas, um serrilhador de selos, um fiscal de isqueiros, um quiosque misterioso destinado a receber as sugestões dos cidadãos sobre como fazer um mundo melhor, um homem cuja vida é paralisada pela preocupação constante com a possibilidade de extinção do universo). Tudo ambientado em uma cidade meio kafkiana, que tanto poderia ser Lisboa da década de 50 como uma capital decadente do leste europeu nos tempos atuais. A Pior Banda do Mundo é um quadrinho autoral da maior qualidade, executado por um dos maiores e mais prolíficos quadrinistas do nosso tempo. Enfim, uma verdadeira aula.”

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